ONGs, RADICALISMO ECOLÓGICO E INTERESSES NACIONAIS – III

Por Pr. Paulo Ferreira

Quem acompanhou os debates na Assembleia Geral da ONU sobre as queimadas amazônicas e seus efeitos sobre o clima, conheceu o tom inflamado do presidente francês Emmanuel Macron, secundado pelo pronunciamento do Secretário-Geral, Antônio Guterres. Em muitos lugares do mundo ocorrem incêndios florestais. Na Califórnia, recentemente, mais de cem mil pessoas perderam suas casas, por causa desses incêndios, com pequena repercussão.

Entretanto, os colonizadores europeus persistem em considerar suas ex-colônias países imaturos, incapazes de cuidar da devastação ambiental e do genocídio de índios, legados pelos próprios colonizadores.

O SÍNODO DA AMAZÔNIA. Como vimos no artigo anterior, a legislação brasileira possibilita o repasse de verbas públicas às ONGs sem licitação. Esta possibilidade gerou enorme proliferação dessas organizações (mais de quatrocentas mil) e atraiu diferentes igrejas ao envolvimento não só com a questão ecológica, mas também com assistência social e humanitária a minorias. Embora a Igreja Católica esteja envolvida nessas áreas desde os tempos coloniais, e mais recentemente também com a disputa e demarcação de terras indígenas, o tema radicalizou-se com a pressão de nações colonialistas sobre a ONU, para que intervenha nas referidas questões.

É o chamado neocolonialismo verde. A partir da encíclica Laudato Si (18/06/2015) o Papa Francisco, envolveu a Igreja mais diretamente nas causas ambientais, abraçando opiniões questionadas até mesmo por ambientalistas militantes. Este sínodo, realizado entre os dias 6 e 27 de outubro, foi aberto para a discussão ambientalista e para o aggiornamento da Igreja. Tudo leva a crer que o papa considera definitiva a posição do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão da Igreja que advoga a manutenção da cultura indígena no estágio em que se encontrava no ano de 1500, quando o Brasil foi descoberto.

Falando em Roma a 5 de outubro, véspera da abertura do sínodo, o cacique macuxi Jonas Marcolino, que tem grau universitário, defende exatamente o contrário: que os índios, sob supervisão do governo federal, sejam autorizados a explorar economicamente suas terras, que sejam abertas estradas, escolas, hospitais, etc., e que possam desfrutar da prosperidade que a civilização ocidental proporcionou aos povos que souberam adotá-la. Esta é hoje a posição do governo brasileiro. O Vaticano não vê essa possibilidade. Convém lembrar também que nenhum cacique fala por todos os índios brasileiros.

O cacique fala pela sua tribo. Portanto, a exposição midiática do cacique Raoni, que foi levado para a França e de lá parece querer falar por todos os índios brasileiros, é uma exposição falsa, pois inexiste o rei dos caciques. O Vaticano, em consonância com a posição do CIMI, considera que índios devem permanecer índios. Eternamente pobres, famintos, discriminados pela sociedade, e permanentemente sustentados pelas ONGs, intermediárias entre eles e o governo. (Lembremos que do ponto de vista político, o Vaticano é um Estado independente, governado por um regime teocrático).

O cacique Jonas Marcolino, supramencionado, falou num português fluente e refinado, no congresso promovido em Roma pelo Instituto Plínio Correia de Oliveira, para debater o assunto. (Ver em youtube.com/watch?v=rTAV9a5R2Uk). A Igreja Católica adota a posição do CIMI, vista acima, que é a mesma das ONGs. Parece que a hierarquia católica, quando trata com indígenas, prega um evangelho que não promove mudanças espirituais ou sociais. O documento final produzido no sínodo recomenda que a

Igreja adote um “ritual amazônico” o que parece significar a introdução de crendices indígenas na liturgia da missa, tais como o caapora, o curupira, o saci-pererê e outras personagens folclóricas no caldo de cultura a ser pregado aos índios. Quem conhece a História da Igreja sabe que foi por aí que ela se degradou, quando, na expansão do Império Romano, esse caldo sincrético foi servido aos povos dominados.

As Igrejas Evangélicas não devem alinhar-se com essa postura medieval que nossos irmãos católicos querem administrar aos indígenas. Somos de opinião que missões devem ser feitas com a pregação do Evangelho em sua integralidade. As transformações espirituais, políticas e sociais que irromperam na Europa depois da Reforma Luterana, só foram possíveis porque os países reformados adotaram na instrução pública e na Política as medidas que resultaram na extinção do analfabetismo, do feudalismo e no ressurgimento do velho continente.

Paulo Ferreira é pastor na Assembleia de Deus do Rio de Janeiro. Oficial Superior da Marinha. Diplomado em Altos Estudos de Política e Estratégia pela Escola Superior de Guerra (ESG). Ex-Conselheiro Militar da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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